domingo, 20 de fevereiro de 2011

Hummingbird,

Quem depenou-te, pena a pena,
Toda a asa?
Quem tomou-te a liberdade,
O voo,
E até teu canto?
Quem desbotou-te o verde
E pintou-te de cinza?
Quem prendeu-te em casa de barro?
Beija-flor
vai  l  e  n  t  a  m  e  n  t  e  se recuperando,
alimentando-se do néctar de outras flores.

(20/02/11)

Mike Rodrigues

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Queda-te

Tudo que te peço
É isso, simplesmente
360º de um pedaço pequeno de plástico,
Quase tão pequeno quanto o somos.
Queda-te um instante ao meu lado,
Deixe que o vento termine teu cigarro,
A morte é uma viagem para a qual nunca se atrasa.
Pousa-te junto a mim apenas,
Deixe-me fazer de teus ombros pilastras.
Sabe, viver é como enxergar,
Só preciso que sejas meus óculos.

(08/02/11)

Mike Rodrigues

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A nona praga

Já não reconheço as risadas de meus amigos,
Nem me recordo da voz de minha mãe,
Nem de seu colo,
Às vezes queria apenas voltar ao seu ventre.
Já não reconheço meu próprio rosto,
Perdido em algum lugar
Por baixo dessas olheiras;
Nem meu próprio eu,
Afogado em um caos de idéias.
Eu me pergunto para que tantos olhos?
Quando nem ao menos consigo cerrá-los.
Para que tantas camas?
Se não há ninguém com quem se deitar
E nem mesmo motivo para se deitar, apenas.
Sozinho o dia não faz sentido
Não faz sentido o galo,
Nem o Sol,
Nem o ego.
E exausto dessa noite que não finda
- apesar de não existir -
Acabo acreditando que a solução
Seria trocar Morfeu por morfina.

(06/02/11)

Mike Rodrigues

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Indústria papeleira

Naquele dia chorei sentado ao chão
Desejando virar flor e murchar ao entardecer,
Mas acho que finquei meus pés tão fundo nessa história,
Que acabei virando baobá ou sequóia,
Talvez árvore de mármore,
Fria contra o sol do meio-dia,
Num zero absoluto contra a lua da meia-noite.
O pior não é pensar
Que você ofereceu mais do que poderia pagar,
O pior é saber que eu me vendi.

(22/01/11)

Mike Rodrigues

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Bursite

Aqui preso nessa gaiola
A calmaria dos meus dias
É o tormento das minhas noites.
Sou obrigado a conviver com meus pensamentos,
Ser cordial com minhas verdades,
Confinado com 360 graus de espelhos.
Meus sentimentos se espalham como ondas de chumbo,
Batendo periodicamente contra as horas.
E o barulho que a ressaca causa
Há muito já me fundiu os tímpanos.
Daqui a vista é limitada,
Meus olhos alcançam somente míseras estrelas,
As quais agüentam o peso de meus olhares,
Mais forte que a gravidade de mil massas solares.
Talvez seja por isso que,
Em algum lugar longe de mim,
Alfa Orionis agoniza e definha-se aos poucos,
Emitindo fulizem enquanto queima seus diamantes.
Talvez seja por isso que
Milhares de anos-luz de distância
Não sejam capazes de apagar a veracidade dessa metáfora.

(01/02/2011)

Mike Rodrigues