quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Pessoas apaixonadas

Pessoas apaixonadas são patéticas
São apáticas
São simpáticas e hipotéticas
São até telepáticas
São orgânicas e sintéticas
Pessoas apaixonadas são parassimpáticas
Lunáticas e subaquáticas
São hiperbólicas
Esféricas
E até hipercúbicas
Pessoas apaixonadas são dúbias
E são metálicas
São montanhas
E são nuvens
Pessoas apaixonadas não têm rimas
São figuras, imagens, firulas...
Pessoas apaixonadas são poetas
São patetas
Palhaços e cantores
São campos cobertos de flores
São aves cobertas em pluma
Pessoas apaixonadas são do mar espuma
Bolhas de sabão voando numa brisa...
São chegadas e partidas
São romãs partidas
São xamãs
Pessoas apaixonadas são excêntricas
E ao mesmo tempo concêntricas
São múltiplas e infinitas
E são únicas
São mais que dois
São um
Ai pessoas apaixonadas!
São malucas
Acreditam que o amor se substitui facilmente por um sorriso
Ou até um pedaço de fruta

Mike Rodrigues

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O homem e o vento

Era uma vez um homem
Que se apaixonou pelo vento
Vivia percorrendo o mundo
Correndo atrás de seu amado
E tão logo o sentia nos cabelos
Tão logo ele já havia passado
Pobre homem apaixonado
Vivia sempre cansado
Vagando sempre ao relento

Era uma vez um homem
Que se apaixonou pelo vento
Viveu percorrendo o mundo
Correndo atrás de seu amado
E quando deu por si um dia
Sua vida já havia passado
Pobre homem apaixonado
Viveu como pássaro sedento
Sem nunca ter pousado

Era uma vez um homem
Que se apaixonou pelo vento
Viveu percorrendo o mundo
Correndo atrás de seu amado
Percorrendo imensuráveis espaços
Perdendo-se através do tempo
Buscando sempre um futuro
Fugindo de seu passado
Nunca vivendo o momento

Pobre homem apaixonado
Tivesse ao menos respirado
Sorvido um gole do vento
Teria sempre seu amado
Consigo ali por dentro

Mike Rodrigues

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

“Coração-bobo
Coração-bola
Coração-balão
Coração-São-João
A gente
Se ilude, dizendo:
‘Já não há mais coração! ’...
Coração Bobo – Alceu Valença

Coração é coisa louca
Às vezes parece dançar no peito
Às vezes parece sair pela boca
Às vezes deixa a pessoa louca
Às vezes quase que mata o sujeito
Às vezes parece não ter mais jeito
Quer gritar até a voz ficar rouca
Coração não é algo pra alma pouca
É ao mesmo tempo causa e efeito
Coração para que bata direito
O melhor é amor à queima-roupa


Mike Rodrigues

sábado, 9 de novembro de 2013

Morfema

Ah quem me dera voltar
Para os braços de Morfeu
Na terra em que vivíamos
Vivíamos do que colhíamos
Ele a mim amava
E quem o amava era eu
Os mantos que  me cobria
Eram mantos de alforria
A língua a qual falava
Era a canção que me ninava
E quando eu dormia
Enquanto eu sonhava
Era só nele em que pensava
Mesmo o vendo todo dia
Na  terra da morfina
Viver de pura dopamina
Bebendo dos seus lábios
Um néctar do próprio deus
Ah noite escura
Chuvosa e fria
Minha eterna companhia
Que será dele e eu?
Se chovesse como eu chovo
Até os dias que são longos
Passariam por penúria
Se chovesse como eu chovo
Digo certo, com desgosto
Seria uma eterna lamúria
Ah noite fria
Que chora e dorme
Porque também não durmo eu?
Que será dele sem mim?
Que será de meu Morfeu?
Ah nostalgia eterna
Querer voltar pr'aquela terra
E dormir nos braços seus
E essa noite que me é eterna
Essa panterína fera
Indomável, insopitável
Quer roubar os sonhos meus
Embala-me com seus encantos
Oh Morfeu eu vos rogo em pranto
Daí-me um pouco do seu ópio
Adormece o choro meu.

Yuri Mushrock

domingo, 27 de outubro de 2013

A esfera

O olho vaga, lunático, vazio
E me engloba.
Constrange-me, me flagra
E me assola.

A esfera fria pisca
Se lambe com pestanas grossas,
Metálicas, mais que metálicas,
De chumbo
E se corta.

O olho sangra e pinga,
Goteja e chora.
Inunda-me com seu mar
Espesso, me toca, me afoga.

A bola gira rápida confunde-me e pisco.
Em volta ela desmaterializa-se
E fico vazia, lunática, fria, metálica,
Mas sinto, percebo
Que algo me olha.

(01/05/2010)

Matilda de Azevedo

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Nihilo

Tua falta é excesso nesse momento
Tua ausência por fora
Me é vazio por dentro
Saudade que me segue passo por passo
Cada vez mais minguante
Cada vez mais escasso
O silêncio que preenche esse vácuo
Um lapso no tempo
Um buraco no espaço
Lembrança que me mantém acordado
A atormentar-me o futuro
A corroer-me o passado
Um frio que me percorre a coluna
Esse hiato infinito
Essa eterna lacuna
Abstinência que me deixa dopado
Tua falta é excesso
Mais que demasiado

Mike Rodrigues

sábado, 19 de outubro de 2013

Enquanto

“Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo”
Uns Versos – Adrianna Calcanhoto

"E o meu lugar é esse
Ao lado seu, no corpo inteiro
Dou o meu lugar pois o seu lugar
É o meu amor primeiro
O dia e a noite as quatro estações"
Dois Rios - Skank

Basta que chova um pouco
Para que em mim chova-se muito
E essa língua que sempre foi minha
Grita em mim para ser tua
O sol que te mandei
Acorda-te aos poucos a carne nua
Abre-te os olhos para manhãs frias
Desperta-te para essa espera crua
E os anos que nos separam?
Parecem mínimos diante desse fuso
Esse tempo daqui pra frente
Só faz meu ser ser mais confuso
Nessa trama de incertezas
Pareço cego, surdo e mudo
O vazio que há por dentro
Triste distancia que se arrasta
É mais que metros
Inteiros mundos
Esse meu, enquanto resta
E esse seu que é meu futuro

Mike Rodrigues

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sódio

(02/04/12)

O silêncio se construiu de tal maneira
Que quase é possível cortá-lo à faca
Assim como eu me reparto
Facilmente sob sua afiada navalha
E minha nua carne branca
Sob essa luz amarela e fraca
Vai se tornando mais fosca
Pouco a pouco menos pálida
Meu coração se desmancha igualmente
Toda vez que em contato com lágrima

Mike Rodrigues

domingo, 22 de setembro de 2013

Caso de polícia

O carro de polícia chegou gritando o silêncio pra fora das ruas
Com luzes em rodopio em toque de recolher pra quem deve
Ou pra quem omite
O corpo dele estava no chão frio
Como um clichê de livro inglês
Como uma marionete em posição de Kama Sutra
Nu, como veio ao mundo
Modelito escolhido para também deixá-lo?
Os mortos não falam
E não possuem caixas pretas
Deixou seus segredos guardados nos corações de poucos amigos
Deixou seus pertences sem valor pra quem quisesse brigar por eles
Deixou seus poemas pros filhos e netos de outros...
Médicos legistas e inquéritos lentos arrastados por incontáveis decaimentos atômicos
Causa mortis: asfixia poética!

(20/09/13)

Mike Rodrigues

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

だるま

                                           Fonte: http://instagram.com/p/eerCw3nNOZ/


An egg silhouetted against the window
As red as the big circle outside
Covered in endless seconds and dust
Only loneliness stands by its side

Silent figurine, to where would you run?
When you can’t even go to sleep
Eyes wide open against your own will
Time atrophying body but not dreams

Peaceful warrior, during meditation
Did you see this coming irony?
I was the one that gave you your eyes
But you were the one that made me see
Putting an end in this long karma
By giving me a kiss in my eyelids.

Mike Rodrigues

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A fábrica

                                                                Foto por: Mike Rodrigues

Esse prédio surge como uma agulha
A costurar o chão com concreto e aço
Nessa caixa, meias conservadoras
Deslizam por mil esteiras
Há um ciclo eterno
Entre robos e máquinas
O tempo escorre
Transformando-se em cifras,
Mas as horas paradoxalmente estagnadas
Esse prédio impressiona
Com suas paredes demasiadamente quadradas
Fabricando nuvens com fumaça


Mike Rodrigues

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Convergência

O filho de Maria poderia não ter nascido
Nem como acidente
Mesmo não sendo de pai de papel passado
E nunca seria de Maria
O filho de Maria poderia ter sido dado
Como se dá um filhote de uma grande ninhada
E nunca seria desta Maria, mas de outra
O filho de Maria poderia ter sido analfabeto
De pai e mãe
E de irmão
E de várias gerações que ainda virão
E nunca nem saberia escrever "Maria"
O filho de Maria poderia ter morrido de fome
Ou de bala perdida
Ou ter se perdido
O filho de Maria poderia ter morrido aquele dia
Se não fosse por Maria puxá-lo pelo braço
Ou depois daqueles seis dias de cama
Poderia não mais ter sido embaixo de seis palmos de terra
O filho de Maria poderia ter morrido provinciano
Uma pedra em estado de repouso
Um peso morto em conforto absoluto
O avião do filho de Maria poderia ter caído
Como cai uma pedra que tenta ser pássaro
E nunca nem saberia dizer “Mary”
O filho de Maria poderia nunca ter retornado
O filho de Maria poderia ter arrumado um emprego
E nunca ter virado universitário
Poderia ter dormido até mais tarde
Ao invés de sonhar acordado
O filho de Maria poderia nunca sequer ter tentado
Ter-se-ia conformado?
O filho de Maria poderia ter se atrasado
Poderia ter tido medo
E ter desistido
O avião do filho de Maria poderia ter caído
Como caíram muitos a sua direita
E outros tantos ao seu lado
O filho de Maria poderia ter ficado calado
Poderia nunca ter saído de casa
Ou tomado um café
Ou menos ainda ter tomado outro
Poderia ter dito NÃO
Ou tido SIM no momento errado
O filho de Maria poderia nunca ter amado.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Chuva

“Rainy days and Mondays always get me down”


Às vezes o céu chora tanto
Que até lava a luz do dia
Fica tudo escuro
Que até desbota as cores das coisas
Fica tudo cinza
Que até apaga o calor da gente
Fica tudo frio
Aí a gente chove tanto por dentro
Que dá até vontade de chover por fora.

Mike Rodrigues

terça-feira, 25 de junho de 2013

Before and after

                                                               You + Me = We - cartolina e tinta


I was lost before you came
Before you came I wasn’t me
But if I was, then I don’t know
Maybe I just couldn’t see
See what was already there
Waiting for me somehow, somewhere
Waiting for me to let it be
Waiting for me to set it free

I got lost after you came
After you came I’m not myself
But if I am I can’t compare
Maybe I am just somebody else
Somebody that was already there
Waiting for someone else to care
Waiting to just feel complete
To finally make my heart beat.


Mike Rodrigues

sábado, 22 de junho de 2013

Mama

Mama, eu preparo teu enterro
Debaixo do véu escuro
De um ponto claro,
Na garganta profunda
Dum girassol enegrecido
Ruído em seu próprio buraco negro.

Mama, não chore contas,
Mais pérolas prateadas,
E adicione mais grãos ao céu
Acima de teu próprio preparo.

(18/06/11)


Yuri Mushrock

terça-feira, 18 de junho de 2013

O grito

O meu grito é infinito
Atravessa a noite inteira
E pra muitos ainda inaldível
Pr’aqueles de almas vazias
De almas sem sentidos
De alma sem sentido
Eu sou o próprio grito
O grito dos aflitos
Hunilhados e esquecidos
O grito dos afoitos
Dos rebeldes e d/reprimidos
O que tantas vezes fora engolido
Sou o grito não mais contido
O grito de loucos
O grito de parto
O grito d’orgasmo
O grito d’independência
Sou o grito de aviso
O alarme de incêndio
O despertador dos adormecidos.


Mike Rodrigues

segunda-feira, 10 de junho de 2013

카페 시간

“Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado (...)
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade”
Momento num café – Manoel Bandeira

Coreia do Sul
Seus milhares de cafés
Seus milhares de habitantes
Em particular esse no qual estou
Em particular eu sou brasileiro
O café é brasileiro
A bossa é brasileira
A saudade é brasileira
A culpa é nossa.


Mike Rodrigues

quarta-feira, 5 de junho de 2013

S(e)oulless

This city screams steel and concrete
Faceless beings pretend not to hear
The paths, the lines, the way to go have already been set
There is no need to think ahead,
To think outside,
To look behind…
There are no homeless dogs on the streets.
Masked beings leave their houses powered by caffeine.
Alienation comes in the form of a screen.
This city screams loudly
In a language I can’t even speak.


Mike Rodrigues

sábado, 1 de junho de 2013

Amendoim

Gosto de você assim
Amendoim
Caixinha de madeira
Parece de brincadeira
Enterrada no subsolo
Escondendo seu miolo

Gosto de você assim
Amendoim
Pé-de-moleque
Pé-de-moça
Festa Junina você adoça
Tremendo salamaleque

Gosto de você assim
Amendoim
Torradinho ou em paçoca,
No beiju, na tapioca,
Japonês ou com açúcar
Meu paladar você aguça.

(09/01/13)

Mike Rodrigues

Respirar

Inspirou (-se)
Expirou
Poesia


Mike Rodrigues

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Atlas

Under the subway bridge
A boy firmly waits
Leaning on the cold concrete
It's such a giant weight

Above, the subway bridges
Aside, the river slowly flows
Inside some faces come
While some faces go

The bridge shakes with the train
The river sings as it rolls
The boy silently sustains
The boy, himself a pole

The bridge on the boy's shoulder
A heavy cross, a burden
Together such an odd couple
The bridge and the boy that cuddle.


Mike Rodrigues

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Causu

De cabeça pra baxu
E virado d'avessu
Di boc'aberta
Di cai u quexu
Di óio sartadu
Di tão assustadu
Tremenu todim
Qui nem vara verdi
E num era di fri
Num camim iscuru
Istreitu e disertu
Nu mei du nada
Cum na'por pertu
Eu vi um trem
E sortei um gritu
Num seis'era genti
Num seis'era bichu
Num sei qui diachu
Divia sê aquilu
Só sei qu'é verdadi
Acredite amigu
Pois'essi causu
Aconteceu comigu.


Mike Rodrigues