quinta-feira, 18 de julho de 2013

Convergência

O filho de Maria poderia não ter nascido
Nem como acidente
Mesmo não sendo de pai de papel passado
E nunca seria de Maria
O filho de Maria poderia ter sido dado
Como se dá um filhote de uma grande ninhada
E nunca seria desta Maria, mas de outra
O filho de Maria poderia ter sido analfabeto
De pai e mãe
E de irmão
E de várias gerações que ainda virão
E nunca nem saberia escrever "Maria"
O filho de Maria poderia ter morrido de fome
Ou de bala perdida
Ou ter se perdido
O filho de Maria poderia ter morrido aquele dia
Se não fosse por Maria puxá-lo pelo braço
Ou depois daqueles seis dias de cama
Poderia não mais ter sido embaixo de seis palmos de terra
O filho de Maria poderia ter morrido provinciano
Uma pedra em estado de repouso
Um peso morto em conforto absoluto
O avião do filho de Maria poderia ter caído
Como cai uma pedra que tenta ser pássaro
E nunca nem saberia dizer “Mary”
O filho de Maria poderia nunca ter retornado
O filho de Maria poderia ter arrumado um emprego
E nunca ter virado universitário
Poderia ter dormido até mais tarde
Ao invés de sonhar acordado
O filho de Maria poderia nunca sequer ter tentado
Ter-se-ia conformado?
O filho de Maria poderia ter se atrasado
Poderia ter tido medo
E ter desistido
O avião do filho de Maria poderia ter caído
Como caíram muitos a sua direita
E outros tantos ao seu lado
O filho de Maria poderia ter ficado calado
Poderia nunca ter saído de casa
Ou tomado um café
Ou menos ainda ter tomado outro
Poderia ter dito NÃO
Ou tido SIM no momento errado
O filho de Maria poderia nunca ter amado.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Chuva

“Rainy days and Mondays always get me down”


Às vezes o céu chora tanto
Que até lava a luz do dia
Fica tudo escuro
Que até desbota as cores das coisas
Fica tudo cinza
Que até apaga o calor da gente
Fica tudo frio
Aí a gente chove tanto por dentro
Que dá até vontade de chover por fora.

Mike Rodrigues