domingo, 27 de outubro de 2013

A esfera

O olho vaga, lunático, vazio
E me engloba.
Constrange-me, me flagra
E me assola.

A esfera fria pisca
Se lambe com pestanas grossas,
Metálicas, mais que metálicas,
De chumbo
E se corta.

O olho sangra e pinga,
Goteja e chora.
Inunda-me com seu mar
Espesso, me toca, me afoga.

A bola gira rápida confunde-me e pisco.
Em volta ela desmaterializa-se
E fico vazia, lunática, fria, metálica,
Mas sinto, percebo
Que algo me olha.

(01/05/2010)

Matilda de Azevedo

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Nihilo

Tua falta é excesso nesse momento
Tua ausência por fora
Me é vazio por dentro
Saudade que me segue passo por passo
Cada vez mais minguante
Cada vez mais escasso
O silêncio que preenche esse vácuo
Um lapso no tempo
Um buraco no espaço
Lembrança que me mantém acordado
A atormentar-me o futuro
A corroer-me o passado
Um frio que me percorre a coluna
Esse hiato infinito
Essa eterna lacuna
Abstinência que me deixa dopado
Tua falta é excesso
Mais que demasiado

Mike Rodrigues

sábado, 19 de outubro de 2013

Enquanto

“Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo”
Uns Versos – Adrianna Calcanhoto

"E o meu lugar é esse
Ao lado seu, no corpo inteiro
Dou o meu lugar pois o seu lugar
É o meu amor primeiro
O dia e a noite as quatro estações"
Dois Rios - Skank

Basta que chova um pouco
Para que em mim chova-se muito
E essa língua que sempre foi minha
Grita em mim para ser tua
O sol que te mandei
Acorda-te aos poucos a carne nua
Abre-te os olhos para manhãs frias
Desperta-te para essa espera crua
E os anos que nos separam?
Parecem mínimos diante desse fuso
Esse tempo daqui pra frente
Só faz meu ser ser mais confuso
Nessa trama de incertezas
Pareço cego, surdo e mudo
O vazio que há por dentro
Triste distancia que se arrasta
É mais que metros
Inteiros mundos
Esse meu, enquanto resta
E esse seu que é meu futuro

Mike Rodrigues

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sódio

(02/04/12)

O silêncio se construiu de tal maneira
Que quase é possível cortá-lo à faca
Assim como eu me reparto
Facilmente sob sua afiada navalha
E minha nua carne branca
Sob essa luz amarela e fraca
Vai se tornando mais fosca
Pouco a pouco menos pálida
Meu coração se desmancha igualmente
Toda vez que em contato com lágrima

Mike Rodrigues