domingo, 30 de abril de 2017

Ruminante

Eu nunca esqueci
Eu nunca esquecerei
Não é por maldade,
Mas é que os bovinos, assim como os paquidermes, nunca esquecem
Primeiro aquela memória reverberou muito dentro da minha cabeça dura
Silenciosa, infinita e destruidora
Demorei muito para abrandá-la e colocá-la na boca
Então, com todo ócio e paciência que só os touros dispõem e conhecem,
A mastiguei e suguei dela aos poucos cada gota de sumo amargo que pude extrair,
Foi dele que me nutri todos esses anos
E, quando com muito custo, a engoli,
Percebi que ela ainda me revirava as entranhas,
Então a regurgitei, a masquei e a reenguli
Posso te dizer que gastei muito tempo para ruminá-la
E muito suco gástrico para digeri-la
Enfim, pude colocá-la em baixo dos meus cascos
Pisando e comprimindo-a
Até que se tornasse pó...
Mas eu nunca esqueci
Porque perdoar nunca foi sinônimo de esquecer
Apenas não machuca mais lembrar de você

(25 de abril de 2017)

Mike Rodrigues